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A PROPOSTA – PARTE UM

capítulo 5

Foi quando avistou um pequeno satélite, à deriva, o corpo celestial em sua rota revelara-se um possível e necessário esconderijo. Ao se aproximar, alegrou-se pelo fato de não ser um meteorito tão pequeno, e com certeza este, estava muito longe do cinturão de asteroides, cujas infinitas possibilidades abrigavam de tudo, e mais um pouco.

Assim que os pés tocaram o corpo celeste, Tathagata abaixou a cabeça em saudação, seu coração revelara uma íntima e primitiva inteligência e conectava-se profundamente com o coração do meteorito.

Um pulsar de regozijo alcançou seu âmago, porém este, vinha do corpo mineral, milenar, cuja existência fora notada pela primeira vez, cuja aparição preenchera alguém de alegria. O meteorito cooperaria, o abrigaria, enquanto fosse preciso.

Tathagata adentrou o que parecia ser, na superfície do satélite, uma pequena gruta arenosa. Fez pequenos traços sobre o solo, que desprendeu grãos como se estivessem submersos, e em seguida sentou em posição de meditação.

Passado algum tempo, a meditação o envolvia num leve transe, os olhos abertos não encaravam nenhum ponto fixo, e nisto, absorvia, transformava-se, era tudo o que via, e ali estava; uma esfera azul de brilho intenso despontou no horizonte, este no caso, não era a terra, e sim Urano, que a propósito era iluminada como a lua em sua fase crescente.

O turvo azul turquesa, planando sobre o universo majestoso dera a impressão de segurança. Estava muito longe da terra, mas não tão longe. Não seria ali, considerado como uma alma fora de curso, mas sim como um simples nômade, ou alma perdida que não tinha a intenção de ser encontrada.

E foi então que um diálogo inesperado surgira.

– Quem és tu? – a pergunta, pulsava de átomo a átomo, e vinha do interior do asteroide.

– Não sou – respondeu Tathagata.

O asteroide permaneceu silencioso, e um novo pulsar veio de seu interior.

– Deve mesmo não ser, para assim ser – disse o meteorito – o que faz tão longe de onde deveria estar?

– Isto não posso lhe dizer – respondeu Tathagata.

– Então como posso confiar em ti? – questionou a rocha.

– Não confie em mim- retrucou Tathagata – confie em ti!

A rocha pulsou, uma descarga elétrica percorreu o corpo de Tathagata.

– Palavras, são apenas palavras… Caso não possuam um sentido atrelado ao coração. Já fui cem vezes maior, e cem vezes mais luminoso, hoje sou o que sou e tu, é o que é, portanto, surpreso estou, como nunca antes, em toda minha existência! E por estar assim tão excitado, lhe pergunto: o que ganha em troca de minha autoconfiança?

– Confiando em ti, estará confiando em mim – respondeu Tathagata.

O silêncio cósmico permaneceu imperturbável cobre ambos os corpos em meio a vista colossal, de Urano.

– Isto é verdade – exclamou o corpo celeste – Vejo que confia em seu coração e por isso confia no meu, por isso, ao confiar em mim mesmo, ou seja, em meu coração, estarei confiando junto a ti, na mesma coisa, e é claro que o caminho correto para manifestar este tipo de fé é através de mim mesmo… Tu és um sábio, mas por que um sábio se esconde?

– Por que é o que meu coração manda!

– Escolheu o caminho mais difícil – disse o meteorito – o mais difícil de todos!

– Eu escolhi a verdade, por isto escolhi seguir meu coração.

– Vejo ao teu redor, um imenso mistério, mistério este, que só pude sentir no princípio de tudo… Eu o ajudarei, mas o que me daria em troca?

– O que poderia ofertar? Já tem um coração para seguir, uma alma para sentir…

– Há algo que desejo há muito tempo, em segredo…

– E qual é o teu desejo? – perguntou Tathagata, maravilhado com o que acabara de ouvir.

– Se o disser, poderia rir de mim!

– Então podemos rir juntos…

– Não me parece justo – Disse o meteorito.

– O que não lhe parece justo?

– Dizer-lhe meu segredo mais profundo, sem que compartilhe o teu…

– Direi meu segredo, e então dirá o teu. E assim então seremos cúmplices deste grandioso mistério, que entrelaçam nossos corações…

Tathagata abaixou-se, rente ao solo, deitou a face sobre a areia, que desprendeu-se sob a gravidade zero. Em seguida, sussurrou algo na areia.

O meteorito permaneceu em silêncio.

– Agora vejo o porque segue teu coração, e então percebo o por que assume tantos riscos, escondendo-se em meu corpo.  Disse o teu desejo, e agora direi o meu.

– E qual é o teu desejo?

– A chama que arde em teu peito, assim como no peito de muitos…  Nunca amei, e nunca fui amado – respondeu  – sou um corpo mineral , tenho minhas funções, escolhi ser o que sou…

– Você não deseja o amor, deseja a verdadeira liberdade!

– Sim – disse o minério, e como se tornasse mais pesado, deslizou drasticamente.

– Esta é sua dor? – questionou Tathagata.

– Sim – respondeu o mineral.

– Assim que eu o deixar,  vá até a terra, permita-se fragmentar no caminho, tornando-se um terço do que é, e então, saúde o planeta e mergulhe em sua atmosfera.

O calor das chamas incidirão sobre ti assim que tocar a extratosfera, e então, sendo assim, sua alma pertencerá aquele mundo… e a aterra como é generosa e repleta de amor, lhe concederá um corpo… Será uma mulher, terá um nome, um corpo, um coração… e só assim, poderá seguir rumo a liberdade…

– Ora, disto eu não sabia – bradou o meteorito – como posso assegurar que o que diz é verdade? Terei muito trabalho, e se não encontrar o que procuro, tenho medo de sofrer…

– Quando estiver na terra, eu também estarei.

– E como vou reconhecê-lo?

– Terei os cabelos longos e brilhantes como o sol – disse Tathagata, apontando para o astro que brilhava distante.

 

 

 

 

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