A PROPOSTA PARTE UM
capítulo 6
A sua frente, estava a figura de um homem, três vezes o tamanho de sua altura, deveria ter aproximadamente quase seis metros de altura, vestia uma espécie de saiote, a pele era bronzeada, continha pulseiras e braceletes do que parecia ser ouro, e sobre a cabeça uma coroa de arestas geométricas, que pareciam sustentar o globo de luz, que cintilava como um rubi exposto contra a luz.
Dawa não sabia o que dizer, nem ao menos sabia o que estava sentindo, a figura era ameaçadora. O rosto, este, este fora o maior impacto; não havia rosto e o que havia, era como a face de um cão ou chacal.
A figura moveu-se levemente, e Dawa sentira um assombro terrível, a sombra em seu peito, o desejo de saber onde estava aquele que tornara suas experiências terrenas tão mais significativas, este sentimento o consumia em frente à figura, que a tudo parecia compreender.
Foi então que a figura gigantesca dobrou uma das pernas ajoelhando-se, o simples movimento, fez com que Dawa saltasse para trás, foi então que a figura aproximou-se, e com o indicador da mão direita, tocou-lhe o peito.
No mesmo instante em que a criatura tocou-lhe o peito, uma tristeza profunda invadiu Dawa. Não havia a impressão do riso e do desapego que estava momentos antes, atenuados pela presença de Bagwan, que a este momento desaparecera rejuvenescido.
Sem que resistisse, Dawa chorou, as lágrimas caíram de seus olhos desproporcionais ao que sentia, eram muito mais intensas, não era como o choro que tinha na terra, em vida, era um choro desmedido.
Quando tocavam a areia, as lágrimas faziam com que os grãos de areia as absorvesse, tornando-se pequenos arbustos sobre os pés de Dawa, que nem sequer os via, apenas chorava, chorava e chorava, chorava a falta de Tathagata e a impotência que sentia perante a situação que se encontrava.
Foi então que uma rosa, branca, cintilante, cujas pétalas desabrocharam feito o próprio nascer do dia, nasceu dos arbustos, como lótus nasce no meio do lodo. A gigantesca criatura encarou a pequena flor e tornou a observar a tristeza de Dawa.
O jovem sofria, mas não se perdia no que sentia, apenas sofria; a criatura, ao perceber que Dawa, ainda não tinha visto o Oasis que se formava a seus pés, permaneceu calada como se esperasse o momento em que este repararia, mas não reparou, continuava chorando, cravou as mãos sobre a areia e foi então que não a encontrou; os dedos tatearam a grama lisa e verde, sobrenatural, e foi então que Dawa percebeu o pequeno Oasis.
Mas assim que vira a flor, chorou mais ainda, como se esta o tocasse profundamente, e foi então que a flor ficou mais cintilante, mais suculenta, a criatura levantou e surpreendentemente bateu com o pé esquerdo sobre a areia. A rosa branca, explodiu, lançando para os ares, as toneladas de areia que formavam aquele deserto.
A explosão de luz, poderosa, arrebatou para o céu sem astros, todas aquelas dunas, que rapidamente, desapareceram por completo, dando espaço ao vácuo.
Dawa sentira-se sugado pela luz, não havia mais nada a não ser luz por alguns instantes, até que esta, expandiu, revelando-lhe para sua surpresa, um solo sobre seus pés, rijo, e macio, não sabia que material era aquele. Mas tinha a impressão de que, caso caísse sobre aquele chão, não machucaria.
Dawa olhou curioso o cenário a sua volta, estava numa espécie de salão, muito amplo, nele, havia muitas pessoas, um relâmpago ou outro cortava o ar, e no lugar onde a luz incidia, surgia alguém.
Porém ninguém sabia como fora parar ali, este era um ambiente tão avesso ao deserto, que Dawa sentiu saudades do mesmo; da paz, da solidão, os momentos inesquecíveis com Bagwan. Foi então que uma mão tocou seu ombro esquerdo, e ao virar-se encontrou a figura simpática de uma mulher, alta, suas feições muito ocidentais, eram de alguma forma, exóticas para Dawa.
– Como veio do deserto? – questionou a mulher.
Dawa então contou-lhe tudo o que havia acontecido, a mulher demonstrava-se muito surpresa em alguns momentos de sua narração, como o momento em que surgira a flor, sobre o Oasis aos seus pés.
– Suas lágrimas – Disse – não continham pesar e sim o amor puro, e estão prestes a desabar de seus olhos novamente…
Dawa com os olhos marejados, agora se sentia minimamente mais denso, havia sim, certo pesar em seu coração.
– Mas eu sinto uma âncora em meu peito – Disse – assim que me lembro…
– Não se preocupe – Disse a mulher – tudo está em curso!
– Onde estamos? – perguntou Dawa, muito educadamente.
– No mesmo lugar em que estava antes – respondeu a mulher, e então dawa se lembrou mais uma vez do deserto sobrenatural.
– Quer dizer que…
– Sim, a todo momento esteve aqui… Monitorado por mim, acompanhei de perto tua jornada interior e esta fora bem sucedida.
– Eu estava em minha mente? Fora apenas isto o deserto?
– Sim e não – respondeu a mulher, repleta de benevolência.
Foi então que Dawa reparou que outros que ali estavam, pareciam perdidos dentro de si, sempre amparados por alguém que os assistia durante sua jornada interior.
– preciso saber onde estou! Preciso saber que lugar é este! – Indagou Dawa, a mulher o encarou desta vez com maior seriedade e então finalmente lhe respondeu:
– Este lugar é sagrado e fica entorno do mundo de onde vem. Pode ser chamado de estação, e faz parte de uma grandiosa colônia.
Dawa reparou mais uma vez no amplo ambiente, nunca antes vira nada parecido, não existiam na terra materiais como aqueles.
– De acordo com o que se sabe – disse a mulher – o mundo de onde vem se tornará cada vez mais parecido com este… Mas até lá, muitas e muitas eras transcorrerão.
Dawa encarava a tudo muito maravilhado, a mulher levantou-se e fez sinal para que Dawa a seguisse.
– Cada passo dado a partir de agora é muito significativo e talvez não tenha volta, compreende?
– Não! – respondeu Dawa, sem que a negativa soasse ofensiva. Fora uma resposta tão natural quanto à das crianças.
– Compreenderá melhor à medida que avançar – disse.
Dawa caminhava pelo amplo local, e reparou que muitas das pessoas que surgiam depois que os relâmpagos de luz incidiam sobre diferentes pontos da ampla sala, que estas pessoas encontravam outras.
– A propósito – bradou a mulher – você se lembra de mim?
– Não! – respondeu Dawa, novamente.
A mulher sorriu e então, contendo algo que deveria ser muito divertido, disse:
– No momento certo há de se lembrar!